Os idosos em condomínios e as adaptações necessárias.
Idosos que vivem em condomínio: o percentual de pessoas da terceira idade está aumentando, segundo dados do Censo recém-concluído, e estima-se que nos próximos 20 anos a população idosa do Brasil ultrapassará a casa dos 30 milhões.
Outro dado resultante do levantamento é o de que eles estão em maior concentração nos centros urbanos, do Sul e do Sudeste.
Copacabana é o bairro com mais idosos no País.
Um rápido passeio por suas ruas deixa isto claro.
Por isto foi incluído em uma pesquisa que revelou que o melhor amigo do idoso é o porteiro.
Afinal, se mais idosos estão nos centros urbanos, eles moram em condomínio.
E são os condomínios, locais com a segurança e a infraestrutura necessária, que podem contribuir de forma mais efetiva para uma vida ativa na terceira idade.
Isto implica uma série de cuidados, desde adaptações ambientais a oferta de atividades físicas e sociais para estes moradores.
“O mais importante é garantir um ambiente socialmente amigável e que ofereça segurança para o idoso vulnerável”, orienta Célia Pereira Caldas, que é Gerontóloga e Vice-Diretora da Universidade Aberta da Terceira Idade – UnATI, da universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ.
Os idosos em condomínios e as adaptações necessárias.
A especialista destaca a necessidade de se pensar no idoso que vive só.
“Sabemos que não é raro a ocorrência de idosos que sofrem acidentes dentro de seus domicílios e ficam sem socorro até que alguém apareça ou escute um débil pedido de socorro”, diz, acrescentando que há ainda as terríveis ocorrências de falecimento que são descobertos apenas pelo odor exalado do apartamento.
“Uma solução para estas graves situações seria o estabelecimento de estratégias de supervisão destes idosos que vivem só pelo próprio condomínio”, enfatiza.
Ela cita algumas soluções possíveis como a instalação de algum tipo de alarme e até uma “ronda” para saber se o idoso está bem, caso não se comunique nem circule mais pelo condomínio de repente.
“As soluções podem ser pensadas de acordo com as características dos próprios moradores e do condomínio.
O que não podemos é deixar que um morador vulnerável fique sem socorro ou sem a atenção digna.
É uma questão de humanidade”, defende.
Os idosos em condomínios e as adaptações necessárias.
Adaptações simples
A longevidade já é um fenômeno mundial e a sociedade, aos poucos, se dá conta de que isto exige melhorias nos serviços e na infraestrutura dos ambientes para este público, com projetos específicos que atendam às suas necessidades e anseios.
À medida que o ser humano envelhece, começa a experimentar, inevitavelmente, maiores dificuldades, pois é fato que não se vive com a mesma vitalidade dos 20 anos de idade, aos 80, 100, 120 anos, e a previsão é a de que muitos de nós poderemos chegar lá.
Os idosos são mais vulneráveis e as quedas são um risco que, muitas vezes, pode resultar em fraturas.
“Por isto, é preciso evitar obstáculos e melhorar a iluminação”, orienta Claudio Santili, presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia-SBOT.
Foi em um congresso da SBOT que o público pode conhecer a Casa Segura, uma publicação aprovada pelo Ministério da Saúde, dentro do programa Saúde do Idoso, de autoria da arquiteta Cybele Barros.
A pedido da Lowndes, ela fez algumas adaptações das orientações de seu livro para os condomínios (veja o quadro Condomínio Seguro).
Ela recomenda o uso de corrimãos, pisos antiderrapantes e evitar desníveis no piso com a colocação de rampas.
Mas, alerta: “As pessoas mandam fazer as rampas com a inclinação que der no espaço disponível e a tornam um perigo.
A rampa muito inclinada é ruim para quem usa bengala, cadeira de rodas e até para quem tem algum problema no joelho e dificuldade de andar”.
Os idosos em condomínios e as adaptações necessárias.
No Condomínio do Edifício Dora, no Leblon, no lugar onde antes existia uma escada íngreme, com degraus estreitos, a síndica Neir de Macedo Campos Soares, está construindo uma rampa.
Para isto, contou com a ajuda de um engenheiro.
“Foi preciso retirar um banheiro para fazer direito”, explica.
Síndica de um prédio em que dos nove apartamentos seis têm moradores idosos, ela diz que sua preocupação foi com todos, moradores e visitantes.
“Será mais cômodo tanto para o morador que chega com carrinho de compras, quanto para um cadeirante que visite o prédio”, afirma.
Eles também querem diversão e arte
Mas nem só de segurança vive o idoso.
Aposentado, filhos criados e nada para fazer é o caso da maioria, o que não é o mais recomendável para a sua saúde.
Mas, no condomínio Garden Park, no Grajaú, a vida dos idosos é diferente.
Lá, eles contam com um espaço só para eles, onde uma professora orienta e organiza atividades, como aulas de artesanato, além de brincadeiras diversas, como gincanas e bingos.
O síndico, Paulo Roberto Fernandes, diz que são diversas as ações de sociabilização para os moradores da terceira idade.
Toda a última sexta-feira do mês é realizado um café da manhã e há ainda as aulas de hidroginástica, ginástica e dança de salão, e uma programação anual que inclui várias festas com atividades ou temáticas voltadas para os mais velhos.
“São pessoas maravilhosas e temos esta preocupação de que tenham mais felicidade e satisfação onde moram”, afirma.
Para a especialista da UnATI-UERJ, em uma sociedade que valoriza mais as oportunidades de sociabilização e integração social para o jovem, muitas vezes o idoso fica sem opção para ampliar seus horizontes de relacionamentos, o que é fundamental para que ele se mantenha ativo, tanto física quanto mentalmente.
Célia sugere que os condomínios promovam atividades socioculturais que sirvam não apenas para este fim, mas para integrar as diferentes gerações.
“Crie áreas que funcionem como ponto de encontro e de atividades adequadas aos idosos, mas oportunize a troca.
Ao conviver com os idosos em atividades sociais o jovem tem a oportunidade de desmistificar estereótipos e preconceitos em relação às pessoas mais velhas e é importante que o jovem aprenda que bom humor, simpatia e diversão não têm idade”, afirma.
Os idosos em condomínios e as adaptações necessárias.
Pode-se buscar entre os moradores, alguém que tenha interesse em coordenar atividades para este público.
No próprio condomínio, com tardes com bingo, dança, karaokê e outras brincadeiras.
Ou fora dele, com excursões a cidades próximas, passeios em pontos turísticos da cidade, idas a teatros, cinemas e shoppings.
“O mais importante é criar oportunidades para que tenham uma vida ativa e feliz”, conclui.
Condomínio Seguro
Adaptar o condomínio para que ele garanta mais segurança para o idoso não é difícil. Algumas dicas podem ajudar:
1) Coloque corrimãos em todos os locais onde existam degraus ou escadas, e também dentro dos elevadores para que as pessoas tenham onde segurar.
2) Aumente a iluminação nas entradas, permitindo que a pessoa encontre com facilidade a chave do apartamento, por exemplo, e se oriente melhor. Paredes claras ajudam.
3) Adote pisos antiderrapantes – externamente, pedra ou cerâmica áspera -, internamente, pisos não polidos; e evite as ceras que fazem o chão escorregar.
4) Cuidados com rampas e escadas: a rampa não substitui a escada e vice-versa. Ela é auxiliar, mas não deve ultrapassar a inclinação de 10% a altura a ser alcançada. Para substituir, por exemplo, três degraus (aproximadamente 50cm de altura) a rampa terá uma extensão de 5 metros.
5) Substitua desníveis no piso por rampas.
6) Evite bancos e móveis baixos, com bordas quadradas em áreas de grande circulação, além do uso de tapetes soltos.
Porteiro – Figura chave nos cuidados com o morador idoso
É o porteiro que ajuda as pessoas idosas a carregar as compras, trocar uma lâmpada quando necessário, e lhe dá atenção, criando uma relação de confiança.
Por isto, foi considerado o melhor amigo do idoso.
A explicação é do especialista brasileiro, Alexandre Kalache, responsável pela pesquisa que foi realizada pela primeira vez em Copacabana, em 2006, e teve a adesão posterior de outras 35 cidades, formando uma rede global pelas cidades amigas dos idosos, que objetiva a troca de experiências e a melhora nas condições de vida ativa dos idosos que moram nelas.
Membro da Academia de Medicina de Nova York e coordenador de diversas ações para a longevidade ativa naquela cidade, Lalache diz que um dos resultados deste trabalho é o curso Porteiro Amigo do Idoso, um treinamento que tem a intenção de preparar aqueles que lidam diariamente com longevos a oferecerem melhores serviços a esse público.
O projeto piloto está sendo realizado em Copacabana, mas a intenção é levar o treinamento a muitas outras cidades no mundo.
“A pesquisa não perguntou diretamente aos idosos quem consideravam ser seu melhor amigo.
Mas em suas respostas saltou aos olhos depoimentos como o de pessoas que contaram abandonar o analista, pois os porteiros lhes davam mais atenção”.
fonte: lowndes