Mentira pode esconder um transtorno de comportamento.
Pessoas que entram no mundo da mentira acabam criando universo paralelo.
Na fábula “O Pastor e o Lobo”, de Esopo, o menino pastor gostava de pregar peças gritando “É o lobo, é o lobo!”, e se divertia quando todos corriam para acudir.
Até um dia em que o lobo veio mesmo, ele pediu socorro desesperado, mas ninguém acreditou, e o rebanho foi comido pelo lobo.
Cair em descrédito é um dos riscos que correm os chamados mitômanos, ou mentirosos compulsivos.
O outro grande risco é o de ir perdendo os vínculos: trabalho, amigos, família, até se tornar uma pessoa solitária.
Mentira pode esconder um transtorno de comportamento.
A mitomania é uma tendência patológica pela mentira.
É um problema de difícil diagnóstico, pois as pessoas não costumam encarar a mentira, em si, como algo a ser tratado.
“Para elas, é somente uma forma de viver. As pessoas só buscam ajuda quando há algum problema associado – como uma dependência química, depressão, um transtorno de personalidade”, afirma a doutora em psicologia Maria Alice Fontes, de São Paulo.
A grande diferença entre um mentiroso compulsivo e uma pessoa que mente esporadicamente é a intensidade e a frequência da mentira.
“A pessoa que entra na mentira compulsiva cria quase uma realidade paralela”, diz Maria Alice.
Sem saber, a assessora de imprensa A. (que pediu para ficar anônima), 33, entrou em um desses universos imaginários.
“Eu me relacionei com uma pessoa por oito anos”.
Desde o dia em que o conheci, ele me conta mentiras.
No início, ele disse que era solteiro.
Depois, disse que era noivo, mas insistimos no relacionamento assim mesmo.
Um dia, ele me ligou e disse que havia se casado e ia ser pai.
Meses depois, descobri por meio de um amigo dele que, quando nos conhecemos, ele já tinha um relacionamento de 15 anos com a esposa e mentia para ela também”, conta.
Ela, que conta ter ficado doente e chegou a ser internada depois da notícia, rompeu o relacionamento.
“Tenho a consciência de que não dá para viver com ele desse jeito”.
Causas.
A mitomania costuma ser uma consequência de um quadro psicológico.
A pessoa começa a mentir por insegurança, ou porque tem baixa autoestima e deseja ser admirada, por exemplo.
“Ela mente para evitar punições, situações coercitivas, ou para ganhar alguma coisa”, enumera o psicólogo, mestre em análise do comportamento, Gustavo Teixeira.
A advogada Aline (que não quis revelar seu sobrenome), 31, consegue identificar isso em sua própria família.
“Minha tia sempre mentiu sobretudo.
Quando ela não sabe a resposta para alguma coisa, ela inventa.
Mente até sobre a sobremesa do almoço de domingo”, conta.
Nem sempre a mentira é para conseguir alguma vantagem.
“Acho que ela mente por hábito.
Acho que é uma forma de se inserir”, opina Aline.
Geralmente, o mitômano adota esse tipo de comportamento por perceber que isso não lhe traz consequências negativas.
Assim, é importante confrontar o mentiroso.
“É bom enfrentar a pessoa com muita tranquilidade, mas com firmeza, e valorizar a autenticidade”, aconselha Teixeira.
fonte: jornal o tempo