Polenta, a italianinha da vez, como não saborear?
Amarela, branca ou negra.
Cozida, frita, tostada ou recheada.
Com ou sem molho.
O que você vai querer?
“Não é a comida que espera por você.
Você é que tem de esperar por ela.”
Saiu-se com essa o chef italiano Sauro Scarabotta, do restaurante Friccò , em São Paulo, para falar sobre polenta – e confirmar que fazer e comer essa receita emblemática da culinária italiana é, antes de tudo, um ato de paciência e longa espera.
“A fórmula é simples, mistura basicamente farinha de milho seco e água.
Mas, para atingir o ponto certo, tem de cozinhar em fogo baixo por até duas horas.
Você passa todo esse tempo trabalhando para ser feliz por alguns minutos.”
Polenta mole com ragu de linguiça: doação, paciência e conforto
Os mais sistemáticos diriam que é fundamental mexer a massa de milho sem parar por uns 45 minutos e sugerem ainda que ela seja cozida de fogão a lenha para obter um aroma levemente defumado.
Mas o que todo mundo quer é que a massa fique lisa, linda e saborosa.
E que seja mesmo versátil.
Mais adiante, Scarabotta dá as dicas para tirar o melhor proveito de todas as roupagens da polenta (são várias) e o leitor soma essas orientações a uma dose básica de doação de tempo e vontade, coisa que quem cozinha tem de ter mesmo.
Prato de resistência
Polenta, a italianinha da vez, como não saborear?
A polenta italiana nasceu no século XVI no norte da Itália, com um pezinho na América Central.
“Não há registros definitivos de quando e onde a receita foi criada.
Mas há indícios de que os imigrantes europeus levaram o milho do novo para o velho continente e o introduziram na agricultura e cozinha local”, afirma Mauro Cingolani, chef italiano professor da Escola de Gastronomia UCS-Icif, em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul.
O nome vem do latim pollens, pollinis (flor de farinha) e de puls, pultis (papa, mingau).
O preparo totalmente simples, o baixo custo e o fato de proporcionar saciedade fizeram da polenta uma substituta para pães e sopas, tornando-a prato principal na mesa de muitas famílias pobres.
“Na época, isso chegou a provocar uma onda de desnutrição na região do centro e do norte da Itália, porque, apesar de substancial, a polenta tem baixo valor vitamínico e precisa de outros alimentos para nutrir”, diz Cingolani.
Com o tempo, e a ampliação do repertório culinário, a polenta assumiu o lugar de acompanhamento de carnes.
Polenta, a italianinha da vez, como não saborear?
O chef Sauro Scarabotta nasceu em Gobbio, cidade da região da Úmbria, na Itália.
Ele conta que por lá, todo primeiro dia de neve, no inverno, fazer polenta é um ritual familiar.
“A massa cremosa é despejada sobre uma tábua de madeira e coberta com molho à base de tomate, carnes e funghi secchi.
Todos comem diretamente da madeira.
As sobras, no dia seguinte, são fatiadas e dispostas em camadas alternadas com molho e queijo em uma fôrma e levadas ao forno para gratinar.
Come-se como uma lasanha”, descreve.
Para café-da-manhã, almoço e jantar
Cremosa ou firme, a versatilidade proporcionada pelas diferentes consistências da polenta permite que ela acompanhe qualquer uma das refeições do dia.
No café-da-manhã, a brustolada (tostada na grelha ou na frigideira) substitui com dignidade o quase insuperável pão.
“Para ficar mais saborosa e nutritiva basta substituir metade da água do preparo por leite.
É ideal para combinar com queijo e geleia no desjejum”, indica Scarabotta.
Já a polenta frita, a gente sabe, cai bem como petisco, principalmente para os cervejeiros.
Nesse caso, pode-se acrescentar queijo no preparo quando ainda estiver no fogo para dar um sabor especial.
Na versão cremosa, a polenta fica mais classuda se for acompanhada de molhos.
No Friccò, Scarabotta faz uma versão de polenta de farinha branca tingida com a tinta de lula.
É servida com molho de abóbora e frutos do mar e o chef a chama de “polenta em preto e branco”.
Combinações com creme de gorgonzola ou à carbonara (bacon e ovos mexidos) também abrem o apetite.
Amarela, branca ou negra?
Polenta, a italianinha da vez, como não saborear?
A polenta amarela é a mais conhecida.
É feita a partir do milho amarelo seco.
A branca é obtida do milho branco, típico da Toscana, do Lácio e de Abruzzo.
Já a negra é uma mistura da farinha amarela com trigo sarraceno.
O chef Sauro Scarabotta testou as três versões com as diferentes farinhas.
O processo de cozimento é idêntico para todas.
A negra chegou ao ponto mais rápido.
Parte da farinha é de trigo sarraceno, que tende a cozinhar antes do farelo do milho.
O trigo influencia mais no visual e na textura – o creme fica mais fibroso e com pintinhas negras.
O sabor do milho predomina e o sarraceno aparece suavemente.
A versão feita com a farinha branca é impressionantemente alva.
O sabor é bem mais suave do que o proporcionado pela farinha amarela.
“Essa versão aceita melhor incorporações de outros ingredientes durante o preparo da massa.
É capaz de assumir, por exemplo, o sabor de ervas e queijos com mais facilidade”, anota Sacarabotta.
A polenta de farinha amarela cozinhou por duas horas em fogo baixo.
“A textura é mais granulada e o sabor do milho é mais acentuado”.
Provamos todas as receitas na companhia do mesmo molho, um tradicional ragu napolitano.
Na combinação, venceu a mais tradicional.
A amarela foi a que mais combinou com o sabor do tomate e das carnes.
E foi também com a amarela que o chef variou na consistência.
Para os mais desapegados na contagem de calorias, a frita obviamente não decepciona.
A casca crocante e dourada esconde um interior macio e molhadinho.
“Mas para fritar é preciso que a polenta esteja bem firme e sequinha, caso contrário, vai espirrar no óleo quente e quebrar”, alerta o chef.
Uma versão menos pesada, mas igualmente gostosa é a brustolada – tostada na chapa ou frigideira com um fio de azeite.
“Caiu muito bem acompanhada de queijo feta e geleia de tangerina com pimenta amanhã”.
Na conclusão o chef deixa como conselho que, no caso da polenta, a receita tem uma função de orientação, mas o resultado depende de uma combinação de fatores.
“O tipo de panela, a espessura do farelo, a potência do fogo e até a umidade no ar.
É preciso atentar a para chegar ao resultado que se quer”.
Método básico para polenta
Rendimento:
6 porções
Ingredientes:
1 parte de farinha para 4 partes de água;
2 dentes de alho;
2 folhas de louro;
Sal a gosto.
Preparo:
– Coloque três partes da água para ferver.
– O restante, em temperatura ambiente, coloque num recipiente para diluir a farinha.
– Misture bem.
– Quando a água já estiver fervendo, acrescente a mistura e os temperos e reduza o fogo.
– Mexa bem no início, quando o risco de formar grânulos é maior.
– Depois vá mexendo de tempos em tempos, cuidando para não grude no fundo da panela.
– Esse processo deve durar pelo menos 1 hora e 45 minutos.
– Nesse ponto ela deve estar cremosa.
Para obter a polenta mais firme deixe mais tempo no fogo.
Quanto mais tempo cozinhando mais perde água e mais consistente fica.
Um truque que ajuda a achar o ponto certo é tentar equilibrar uma colher de pau no centro da panela.
Se a colher ficar de pé, significa que mistura está firme no ponto.
Depois, coloque em uma fôrma untada de sua preferência e leva à geladeira para endurecer.
Depois de dura você pode fritar ou fazer a polenta brustolada (tostada).
Para a versão frita, desenforme a polenta em uma tábua de corte e use uma linha fina para fatiar os pedaços.
Nesse caso, o indicado é cortar palitos como os da batata frita.
Já para a brustolada o ideal são fatias retangulares como as do pão de forma.
O corte com a linha é mais indicado porque na faca a polenta pode grudar e quebrar.
Para deixar a polenta em descanso, cubra sua superfície com azeite e plástico filme.
O vapor armazenado entre a massa e o plástico impede que ele forme uma crosta e ficará uniforme.
Fonte: receitas ig