Tristeza nos Idosos – Pode levar a depressão.
Uma das maiores autoridades da psicogeriatria, Charles Reynolds trabalha para encontrar formas de prevenir a doença em países pobres.
O mundo está envelhecendo — e se entristecendo.
Só no Brasil, de acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saúde 2013 (publicada em 2014), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os idosos são os que mais sofrem com a depressão.
Dos 11,2 milhões de adultos diagnosticados com a doença naquele ano, a faixa etária mais afetada foi a de 60 a 64 anos: 11,1% do total.
A depressão em idosos está aumentando ou diminuindo?
Como as pessoas estão vivendo mais e desenvolvendo mais problemas médicos e neurológicos, podemos ver um aumento nos sintomas depressivos.
Mas acho que, de alguma forma, a boa notícia é que estamos aprendendo como prevenir a depressão e já sabemos como tratar melhor a doença.
Estamos tentando ensinar a nossos colegas da atenção primária a importância de rastrear a depressão para que, assim que identificada, a doença possa ser tratada adequadamente.
Idosos são mais propensos a desenvolver depressão?
Alguns idosos sim, especialmente os que estão sob cuidados médicos ou hospitalizados.
Quanto mais grave a comorbidade, quanto mais incapacitante a doença que o idoso estiver enfrentando for, maiores as chances de ele desenvolver depressão.
Depressão em idosos é muito mais cruel que comorbidades médicas, cognitivas e/ou incapacitantes.
Se você observar a comunidade idosa como um todo, os níveis de depressão são, na verdade, menores em idosos que em adultos.
Mas se você olha o cenário clínico — idosos que estão com a saúde prejudicada ou que têm problemas psicossociais —, você realmente encontra níveis maiores de depressão.
Tristeza nos Idosos – Pode levar a depressão
Em vários trabalhos, o senhor cita biomarcadores que seriam indicativos de depressão.
A ciência já sabe quais seriam esses biomarcadores?
Temos boas pistas de quais biomarcadores podem nos dizer quem está sob risco e como os tratamentos que temos hoje realmente funcionam.
São, em sua maioria, proteínas que protegem particularmente contra inflamações, preservando a saúde celular e neurovascular.
Elas podem nos dizer sobre quais pacientes estão correndo mais riscos e como nossas intervenções ajudam a melhorar os tratamentos existentes.
Há algo que se possa fazer durante a vida adulta para prevenir a depressão na terceira idade?
Provavelmente, a coisa mais importante de todas é a atividade física.
Achamos que níveis elevados de exercício ao longo da vida, especialmente na meia-idade, podem ser importantes para ajudar as pessoas a envelhecerem de uma maneira saudável e para reduzir incidentes de demência e outros distúrbios mentais comuns em uma idade mais avançada, como a depressão.
Há um grande campo de interesse nos Estados Unidos em como a atividade física pode promover a saúde cerebral e o condicionamento cognitivo em idosos.
Uma pessoa que passou por vários episódios de depressão ao longo da vida está mais vulnerável a desenvolver depressão na terceira idade?
Sem dúvidas.
Um histórico de depressão é um indicativo de que há maiores riscos de aquela depressão retornar na fase idosa da vida.
Por isso, encorajamos nossos pacientes e suas famílias a terem uma perspectiva de vida a respeito da depressão.
Existe alguma diferença no tratamento do adulto e do idoso em depressão?
Os tratamentos são basicamente os mesmos.
Podem ser farmacológicos ou com psicoterapia.
Muito frequentemente, temos que começar com doses menores com os idosos e ir um pouco mais devagar até encontrarmos a dose ideal.
O problema é ter certeza de que o paciente idoso está tomando a dose adequada e que essa dose se mantenha por um período suficiente não só para deixá-lo bem, mas para mantê-lo bem.
Tristeza nos Idosos – Pode levar a depressão
Em quais pesquisas o senhor está trabalhando ultimamente?
Os temas de nossas pesquisas têm a ver com prevenção e tratamento de transtornos do humor, particularmente depressão severa em idosos.
Temos mostrado que bons tratamentos funcionam para reduzir os riscos de suicídio e podem ser adequadamente implementados na medicina em geral.
Bons tratamentos podem, também, reduzir os riscos de recaídas e de recorrência da doença.
Atualmente, estamos trabalhando nos fatores que podem identificar se um paciente poderá ou não responder bem a tratamentos específicos.
Por exemplo, descobrimos que certos indicadores de performance cognitiva podem nos dizer que pacientes são mais prováveis de responder a certos tratamentos.
Esse é um avanço importante.
A depressão, em idosos ou em adultos, pode causar outros problemas de saúde?
Sim, depressão é um fator de risco para infarto, por exemplo, assim como para demência.
Quer saber um pouco mais sobre a demência, clique aqui
Esperamos que, tratando a depressão adequadamente e mantendo as pessoas bem de saúde, poderemos reduzir os riscos para doenças demenciais em idosos.
Tristeza nos Idosos – Pode levar a depressão
Já existe cura para a depressão?
Não existe, ainda, uma cura. Depressão é uma doença crônica e recorrente.
Sabemos como lidar com ela, como fazer com que as pessoas melhorem, como mantê-las bem e, agora, estamos aprendendo como preveni-la.
Mas não falamos em “cura”, falamos em tratamentos que poderão ajudar a administrar essa doença crônica.
Como a família pode ajudar um idoso em depressão?
A família pode ajudar encorajando o idoso a começar um tratamento e permanecer nele.
Meu trabalho é muito mais simples se a família está trabalhando comigo.
Se não tenho o suporte da família, é muito difícil fazer um bom trabalho.
Gosto de dizer que o cuidado é focado no paciente, mas embasado pela família.
Charles Reynolds, professor de psiquiatria geriátrica do Centro Médico da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, é referência nos estudos que articulam velhice e depressão.
Conversamos com o médico durante a 33ª edição do Congresso Brasileiro de Psiquiatria.
Reynolds, diretor do Instituto do Envelhecimento da universidade norte-americana, comanda ainda o John A. Hartford Center of Excellence in Geriatric Psychiatry (Centro de Excelência em Psiquiatria Geriátrica, em tradução livre).
O trabalho dele tem como foco a medicina preventiva.
Veja também no Portal AVôVó:
https://www.avovo.com.br/afinal-o-que-e-depressao/