República para idosos – O que é de fato.
“Não há nada que melhor defina uma pessoa do que aquilo que ela faz quando tem toda a liberdade de escolha” William M. Bulger.
Certamente você já deve ter ouvido alguém falar que a terceira idade é uma fase da vida caracterizada por muita solidão.
Mas, ao contrário do que alguns acreditam, nesse período os idosos nem sequer pensam em levar uma vida sozinho em suas casas.
A alternativa encontrada por alguns está em morar na casa dos filhos.
Outros, porém, aproveitam a aposentadoria para realizar viagens e conhecer diferentes locais, assim como eu… seja em solo brasileiro ou ao redor do mundo.
Mas para quem não gosta de ficar viajando e não é adepto de ficar abrigado na casa do genro ou da nora, a opção mais viável tem se tornado as repúblicas para idosos.
As repúblicas ficaram muito conhecidas pelo fato de hospedarem jovens que iam estudar ou trabalhar em cidades distantes das que moravam.
Entretanto, elas também têm atraído pessoas mais velhas, devido à facilidade de pagamento das mensalidades que são acessíveis ao bolso de quem já é aposentado.
República para idosos – O que é de fato
Ter a sua liberdade garantida, privacidade e ao mesmo tempo convívio social, e poder dividir os custos de sua moradia, são bons motivos para optar por viver assim.
As repúblicas para idosos são relativamente novas.
Com o número de pessoas com mais de 60 anos aumentando, também cresceu o número de tipos de moradia.
Conhecer esses espaços é fundamental para realizar boas escolhas no futuro.
A primeira república específica de atendimento ao público da terceira idade surgiu em Santos, no litoral de São Paulo, em 1995.
O sucesso do projeto foi tamanho que, ao longo desses 19 anos, se estendeu para diferentes cidades do Brasil como: Belo Horizonte, Divinópolis, São José do Rio Preto e Curitiba.
Nessas moradias autônomas, os residentes ficam responsáveis pelos cuidados com a limpeza e dividem as tarefas igualmente para todos.
Divisão de tarefas
Por ser um modelo que não precisa necessariamente de uma instituição para realizar o gerenciamento, as próprias pessoas que decidirem morar em república podem se organizar para escolher o local, a quantidade de moradores, a divisão de tarefas etc.
Os próprios moradores das repúblicas cuidam da limpeza e organização/divisão de tarefas, que são feitas por todos.
Cada um tem suas responsabilidades, que são revezadas para que todos façam um pouco de tudo.
Tudo é decidido em grupo.
As casas possuem regulamentos e estatutos decididos pelos idosos, e que muda de acordo com as necessidades da maioria.
Enfim, é um tipo de moradia com suas características próprias, estabelecidas internamente, que dependem muito da colaboração de todos os moradores para ter sucesso.
Alternativa de manter a vida social
As vantagens de viver em comunidade quando se está em idade avançada, são muitas.
Uma delas é evitar o aparecimento da depressão, um transtorno mental que afeta a autoestima de ambos os sexos e faz com que a pessoa se sinta triste e desmotivada.
A oportunidade de conhecer novas pessoas é mais um benefício.
Isto porque, como a casa está sempre cheia de pessoas, é possível fazer novas amizades na convivência do dia a dia, o que ajuda a espantar a solidão e melhorar o humor.
Assim, o ambiente das repúblicas possibilita que a terceira idade mantenha a vida social ativa, além de estimular a convivência social.
A diferença entre residir em uma república e um asilo está neste convívio social.
Nos asilos, como os idosos não podem sair, o convívio acaba ficando limitado a apenas dentro do ambiente.
Ou seja, não participam da sociedade, não conhecem novas pessoas e não têm vida produtiva e ativa culturalmente.
Nesse ambiente, eles ficam recolhidos e são mantidos pelo poder público ou por grupos religiosos.
Conheça outras em São Paulo, localizada no Tatuapé, a república de idosos abriga 10 pessoas.
Todos eles são homens com mais de 60 anos e que recebem aposentadoria de ao menos um salário-mínimo por mês.
A Associação Reciclazário paga o aluguel da casa e os idosos dividem as despesas de água luz e telefone.
República para idosos – O que é de fato
Idosos buscam alternativas para continuarem morando sozinhos
Ieda Conceição, 67, Roseli Rodrigues,74, e Idalin dos Santos, 86, em uma república de idosos em Santos, SP
É mais provável que você passe sua velhice morando sozinho, com amigos ou numa instituição do que na casa dos filhos, como era comum em outras gerações.
Especialistas em envelhecimento dizem que os arranjos do passado –quando os idosos costumavam se mudar para casa dos filhos quando começavam a precisar de auxílio–, tendem a ficar menos comuns, cedendo espaço para instituições de longa permanência e para novos arranjos, como as repúblicas da terceira idade.
“Hoje, a maior parte dos idosos brasileiros vive em suas próprias casas.
Os que precisam de ajuda ainda têm os filhos como primeira opção, mas essa é uma solução complicada já que tanto as casas quanto as famílias diminuíram”, diz Marília Viana Berzins, assistente social do Observatório da Longevidade Humana e do Envelhecimento.
Em seu livro “70Candles! Women Thriving in Their 8th Decade” (Setenta velas: mulheres florescendo em sua oitava década, em tradução literal) as pesquisadoras Jane Giddan e Ellen Cole aconselham que depois de “certa idade” –embora nem elas arrisquem um palpite para esse número mágico–, devemos traçar planos de permanência ou de fuga do ninho, a depender das condições e vontades de cada um.
“Nos EUA, quase 90% das pessoas com mais de 65 anos planejam envelhecer em sua própria casa, mas poucas tomam medidas para isso, como rever a acessibilidade dos cômodos e pensar no que pode ser feito para tornar o lugar seguro”, diz Giddan, que é professora de psiquiatria da Universidade de Toledo.
Para ela, um pouco de planejamento pode prolongar a independência e permitir que as pessoas tomem as rédeas do próprio envelhecimento.
Ela lista desde reformas e mudanças de bairro até um arsenal tecnológico de aplicativos de celular que compartilham a localização com familiares em tempo real e câmeras de monitoramento doméstico.
“Conheço grupos de pessoas mais velhas que moram próximas e dividem um cuidador, conheço amigos que compraram um terreno para construir casas e serem todos vizinhos.
As pessoas estão buscando alternativas, até porque residenciais para idosos costumam ser ruins ou caríssimos e quase ninguém gosta da ideia de morar com parentes”, diz Giddan.
Idosos que não moram sozinhos ou com seus companheiros costumam viver com parentes, sobretudo com filhas mulheres, afirma Berzins.
Segundo levantamento feito em 2009, apenas 1% dos idosos brasileiros vive em instituições de longa permanência (ILPIs, termo corrente para asilos e casas de repouso).
A maioria (65,2%) dessas casas é filantrópica. As públicas somam apenas 6,6%, com predominância de instituições municipais.
Mas esse mesmo estudo, feito pelas pesquisadoras do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Ana Amélia Camarano e Solange Kanso, aponta tendência de crescimento das instituições privadas com fins lucrativos: elas somam 57,8% das instituições criadas a partir de 2000.
República para idosos – O que é de fato
Desde 2015, o empresário José Carlos Fonseca Ferreira, 79 anos, vive em uma ILPI privada chamada Cora Residencial.
Com filiais no Ipiranga e no Alto de Pinheiros, essa é a primeira rede de ILPIs do Brasil. Além das duas unidades abertas em 2015, eles pretendem abrir mais 30 nos próximos quatro anos.
José Carlos é casado e não precisa de um cuidador.
“Minha mulher é dez anos mais nova, ainda trabalha.
Vim por sugestão do meu geriatra.
Ele achou que passar uma temporada aqui seria uma forma de socializar e criar disciplina com algumas coisas, como a alimentação”, conta.
Inicialmente, ele vai passar quatro meses no “senior living”, como são chamadas as ILPIs de alto padrão.
Uma vez por semana, visita a mulher no apartamento do casal, em Higienópolis.
O convívio social e as atividades são alguns dos atrativos dos residenciais para idosos. José Carlos, que é jornalista e trabalhava produzindo jornais de comunicação interna para empresas, está fazendo um jornal interno da ILPI. ”
O primeiro número é agora em maio, então terá fotos das senhoras daqui quando estavam noivas”, conta ele.
O custo de um senior living como esse, porém, é alto: as mensalidades começam em R$ 4 mil para idosos que não precisam de auxílio para se locomover e dividem o quarto com outras duas pessoas.
Há serviços desse tipo que chegam a R$ 20 mil por mês.
No serviço público também há iniciativas interessantes, embora estejam longe de suprir a demanda.
O programa “Acompanhante de Idosos”, da Prefeitura de São Paulo, oferece visitas semanais de um cuidador para idosos que moram sozinhos, mas que precisam de algum auxílio.
Há ainda a Vila dos Idosos do Pari, um conjunto habitacional feito para maiores de 65 anos.
Em Santos, idosos independentes e de baixa renda vivem em repúblicas com auxílio da prefeitura.
Nesse caso, a prefeitura custeia o aluguel e os moradores dividem os gastos.
“Quando se fala em idoso muitas vezes só pensamos em quem perdeu a autonomia, mas a maior parte dos idosos só precisa de um pouco de apoio para continuar gerindo a própria vida”, diz Humberto Souza, assistente social da Prefeitura de Santos.