Entendendo e tratando a insônia geriátrica.
Insônia é a dificuldade de iniciar, manter o sono ou mesmo obter um sono restaurador, quando associada a prejuízos durante o dia.
Estes prejuízos podem ser percebidos como cansaço, irritabilidade, desatenção, deficit de memória ou sonolência diurna, que pode variar desde a sensação de sonolência à necessidade de tirar um cochilo ou dormir enquanto se realiza uma atividade (dirigir, por exemplo).
Assista o vídeo da entrevista exclusiva sobre insônia do Dr. Marcelo Paoli para o Portal AVôVó:
Texto complementar da entrevista, elaborado pelo Dr. Marcelo Paoli:
A maioria das pessoas já experimentou alterações pontuais de sono, como não dormir bem uma noite ou duas por condições não patológicas, como mudança ambiental em viagens ou preocupações momentâneas com eventos de vida e sabe como uma pequena alteração no ritmo do sono pode repercutir negativamente na qualidade de vida.
Portanto, alterações crônicas, ou seja, que perduram por mais tempo modificando o sono podem levar à graves sintomas, com uma perda importante da qualidade de vida.
Contudo, por vezes é difícil relacionar alterações de sono e outros sintomas.
A insônia pode se estabelecer vagarosamente, ou seja, insidiosamente, ou em conjunto com outras mudanças ambientais, sintomas e eventos de vida.
São estes eventos confundidores e a própria falta de atenção e importância que às vezes damos para o sono que tornam a insônia um problema de saúde pouco reconhecido, diagnosticado e tratado em todas as idades.
Entendendo e tratando a insônia geriátrica
Com a idade, a qualidade do sono diminui.
Iniciar o sono pode ser mais difícil e adultos mais velhos passam mais tempo na cama do que mais novos.
Apesar de idosos sem insônia se queixarem mais sobre o sono, este setor da população sofre mais deste problema de saúde que os mais jovens.
A insônia geriátrica, além de prejudicar a qualidade de vida, aumenta o risco de quedas e de morte.
Quando um idoso se queixa de alterações no sono é importante excluir se a alteração é devido a uma doença clínica, psiquiátrica e medicamentos.
Só assim é possível concluir que as alterações são normais do sono (causadas pela idade).
Esta diferenciação só é possível através de uma consulta médica na qual integra-se os conhecimentos da geriatria, psiquiatria e neurologia (medicina do sono).
Ou seja, obtêm-se dados da história clínica (problemas físicos), da história psiquiátrica (sentimentos, sintomas subjetivos, problemas psicológicos), história do sono (registro do sono) com o intuito de determinar se a insônia é de causa primária ou secundária a doença pré existente.
Para que as alterações sejam atribuídas à idade (“normais”), os prejuízos durante o dia são mínimos.
Caso a pessoa apresenta algum sintoma durante o dia, como cansaço ou sonolência excessivas, ou sintomas à noite, como dor, inquietação ou formigamento, ou precise fazer cochilos para aliviar outro sintoma devido ao sono não reparador as queixas de sono não provavelmente não serão atribuídas à idade.
Por vezes hábitos, pensamentos e crenças atrapalham a qualidade do sono, iniciam ou mantém a insônia.
Para isso usamos um conjunto de orientações chamadas de higiene do sono.
Para algumas pessoas que associam fortemente a cama à preocupações, ou que tem dificuldade a parar com hábitos e crenças que atrapalhem o sono, estas orientações podem se estender a algumas sessões de terapia cognitivo-comportamental.
Em casos de insônia crônica e em que existe um transtorno psiquiátrico estas alternativas de tratamento são muito importantes.
Outros fatores podem contribuir para atrapalhar a qualidade de sono.
Com o avançar da idade a aumenta a sensibilidade a fatores que podem alterar o sono, como a diminuição do tempo de exposição solar, temperatura, barulho e ventilação do quarto.
Chama-se de insônia primária os casos de insônia causados pelas Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (às vezes o paciente não pára de respirar quando ronca), Síndrome das Pernas Inquietas (pacientes geralmente relatam dor ou desconforto nas pernas que não deixam-lhes dormir) Síndrome de Movimento Periódico dos Membros Inferiores (paciente acorda muitas vezes à noite, associado com movimentar-se), Transtorno do Sono REM (pesadelos, movimentar excessivo).
Estas síndromes são transtornos neuropsiquiátricos que causam alterações de sono têm tratamentos específicos (tratamento para a doença, não para dormir);
Elas podem ser de diagnóstico difícil, pois o sintoma que incomoda mais a pessoa muitas vezes não é a insônia, mas o cansaço, o ganho de peso ou a inquietação.
Entendendo e tratando a insônia geriátrica
Frequentemente a alteração de sono é causada por uma doença crônica que o paciente já tem ou por um estado de saúde frágil.
Por isto é importante que o médico também aborde a insônia como uma consequência de possíveis doenças, medicamentos ou substâncias, como o excesso de cafeína e chás.
Mesmo quando causada por uma doença primária do sono, ou por uma alteração específica, por exemplo um transtorno psiquiátrico, a melhora do estado de saúde geral ou o tratamento de outras doenças existentes, como a dor, podem levar a uma melhora importante sono.
Diversos medicamentos podem causar insônia como efeito colateral em algumas pessoas (não na maioria), como betas bloqueadores (p. ex., propranolol), broncodilatadores (p. ex., teofilina), hormônios da tireoide (p. ex., levotiroxina), corticoides (p. ex., prednisona), antidepressivos (p. ex., bupropiona, fluoxetina), benzodiazepínicos (p. ex., clonazepam, lorazepam), descongestionantes, dentre outros.
Por vezes a diminuição da dose é necessária, em outras a substituição da medicação ou até mesmo a modificação do horário de tomada (como, passar da noite para a manhã) pode solucionar a alteração de sono.
A dor deixar pessoas com artrose e outras doenças que causam este sintoma acordadas à noite.
Apesar da indução do sono o álcool piora o sono e pode levar à insônia, pois ele modifica a estrutura do sono.
A doença de Parkinson, doenças da tireoide, preocupação com estressores da vida e doenças que levam à falta de ar também são causas frequentes de insônia e precisam ser levadas em conta quando se avaliam idosos outros pacientes que têm doenças clínicas.
Os transtornos neuropsiquiátricos são uma causa muito importante de insônia na população.
Praticamente todo transtorno neuropsiquiátrico pode causar alteração do sono. A relação é tamanha que até 40% das pessoas com insônia tem algum transtorno neuropsiquiátrico.
O diagnóstico mais relacionado com a insônia nos idosos é a depressão. 90% das pessoas com depressão têm insônia.
Entendendo e tratando a insônia geriátrica
A insônia pode ser sinal de início de uma condição neuropsiquiátrica como a ansiedade ou a descompensação de um transtorno afetivo bipolar, contudo ela também pode ser um sinalizador de sintoma residual, ou seja, sintoma causado pelo transtorno.
Síndromes demenciais, outra condição neuropsiquiátrica também pode levar a alterações do sono.
O tratamento precoce das alterações do sono na demência melhora a qualidade de vida, diminui o estresse do cuidador e diminui o tempo de institucionalização, local onde pacientes têm pior qualidade de sono e acabam usando mais remédios para dormir.
A terapia farmacológica para a insônia nos idosos é direcionada para os problemas que causam as alterações do sono, ou seja, as causas da insônia.
Medicações que causam sono e levam à lentificação da memória e lentificação motora tem consequências sérias para os idosos.
Benzodiazepínicos (bromazepam, flunitrazepam) estão associadas ao aumento de quedas.
Antialérgicos comprados sem receitas (dimenidrinato e hidroxizina) estão associados à perda de memória (cognitiva) e sonolência no dia seguinte.
Assim como têm perfil de patologias diferente de adultos jovens (doenças que eles têm são diferentes das dos adultos jovens), os mais velhos muitas vezes precisam ser medicados de uma maneira diferente dos mais jovens, porque são mais sensíveis a efeitos colaterais, ou são mais sensíveis aos efeitos de alguns remédios.
Também precisam de alterações na medicação devido à mudanças relacionadas ao envelhecimento e uso de múltiplos remédios.
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