Avós jovens devem estar sempre ao lado de seus netos.
Saiba por quê.
Luciene e Maurício: ela concilia a rotina atribulada para ficar perto do neto.
É morrer de amor.
Sentir dor por ter saudade.
Voltar a ser criança.
Reacreditar na vida.
Não se preocupar com o horário, deixar perder-se.
É se sujar na grama (de novo), sentir dor nas costas e esquecer-se.
Chorar de rir.
Dar a mão, correr bagunçando o cabelo, esfolar o joelho.
Planejar viagens (mesmo que de mentirinha). Inventar receitas malucas.
Esmagar até perder o fôlego.
É ser avô, é ser neto.
É essa relação hiperbólica, que engasga a fala quando pensamos.
Que nos faz chorar os olhos e encher o peito de afeto.
É faltar braço para tanta vontade de abraçar os seus.
Se você imaginou dois senhores, vovô na cadeira de balanço e vovó tricotando, pode ter se enganado um pouco: essa nova geração de avós é jovem, na casa dos 50 e 60 anos, ativos, brincalhões, com agenda cheia, e uma ilustre incumbência: arriscam dizer que são os melhores amigos dos netos.
É assim com a catarinense, já radicada curitibana, Luciene Bruel.
Ela foi avó cedo, com 46 anos.
Hoje, no auge dos seus 50, diz que ganhou o melhor presente que a vida podia lhe dar, o neto Maurício, de 4 anos.
Ele veio de surpresa e surpreendeu a todos com suas mãozinhas carinhosas e o jeito falador.
A vovó, então, nem se fala.
“Parece batido falar que é um sentimento inexplicável, mas como dizer sobre algo que nem cabe nas palavras?”, é como ela tenta contar sobre a primeira vez que foi chamada de vó.
Luciene tem uma rotina agitada: é gestora administrativa em uma grande empresa.
Mas tem um trato com o neto, sugerido, inclusive, por ele, e que é um jeito de estarem sempre perto.
“Um dia desses estávamos brincando, na casa dele, ele pegou no sono e precisei sair.
Quando acordou não me viu mais por lá.
Foi quando eu fui surpreendida por uma proposta.
Ele chamou de ‘combinado’ e disse: ‘vovó, vamos fazer assim, que tal você sair, fazer o que precisa fazer, mas depois sempre voltar, só um pouquinho, na minha casa!’“.
Para Luciene, a conversa com o neto, é a prova da parceria dos dois.
Liberdade para curtir
E essa relação lembra um pouco o sentimento que ela própria tinha com a sua avó paterna.
Ela entende que eram outros tempos, as relações mais rígidas, mas tinha uma grande abertura.
“A relação que tenho com o Mauricio é de total liberdade, de curtir a presença do outro, como o que eu também tinha com minha avó.
Aquela autorização para agir como bem entendesse.
Também de apoiar, de mostrar valores e princípios.
Algo despretensioso, mas muito bonito”, explica.
Andar de bicicleta, de patinete, ler histórias e fazer piquenique são alguns dos programas favoritos dos dois.
“Acredito que ele me veja como uma amiguinha, não como a figura da vó, essa já estereotipada.
Fazemos tudo juntos e a vinda dele aqui em casa é sempre um evento”, finaliza.
Vovô cozinheiro
Djalma Amaral Júnior tem 63 anos e foi avô pela primeira vez aos 45, do neto Giovanni, hoje com 18 anos.
O tempo passou e a trupe ganhou mais três membros: Maria Eduarda, de 15 anos, Bernardo, de 12, e a caçula Pietra, com oito meses.
E ele não consegue falar dos netos sem se emocionar.
“A gente volta a ser criança, esquece das responsabilidades por alguns instantes”, disse.
Fatos que mostram isso, na rotina do Djalma, é a bagunça que faz com os netos: a briga pela vez no videogame, os desabafos, as ligações no meio da semana e o mais emblemático momento que têm juntos: na cozinha.
Na casa do Djalma, é ele que movimenta as panelas.
Seja preparando a famosa “feijoada do Djalminha”, o churrasco do final de semana ou o carreteiro — o prato favorito do neto mais velho.
Conversa vai, conversa vem, as palavras vão faltando.
“Você me desculpe, é que de lembrar tantos momentos que nunca mais vou esquecer, vou ficando emocionado”, explica o avô coruja com a voz embargada.
E esses momentos são muitos.
Como a infância do Giovanni.
“Ele queria ser surfista. Subia nas minhas costas e passeávamos pela casa de praia, nas férias.
Eu era a prancha”, conta, divertindo-se.
“Agora ele é um moço, faz Direito, fico muito orgulhoso”.
E da neta Maria Eduarda. “Pode escrever que ela é bailarina e profissional. Acaba de chegar dos Estados Unidos, onde estava se apresentando”.
De Bernardo, lembra da paixão pelo Curitiba.
“Essa rapaziada coxa-branca, hein?”.
E da Pietra?
“É saudade sem fim, ela mora em Florianópolis e conto os dias para vê-la”, derrete-se.
“Quero que eles saibam que a minha casa, e a da Ivete, minha esposa e avó tão querida, é a casa deles e fico muito feliz quando estão aqui”, frisa”.
Avô alma gêmea
E toda essa cumplicidade compartilhada pelo Djalma com os netos é também sentida por Maurício Carraro, de 60 anos.
Ele é avô da Maya, de 4 anos, e do Gael, de 2.
É desses que troca fralda, dá banho e brinca muito.
A profissão, de humorista, possibilitou a ele esse contato mais próximo, já que trabalha à noite e tem, normalmente, as tardes livres.
“A Maya, logo quando nasceu, ficava todos os dias comigo.
Tecemos uma relação muito próxima, de olhar no olho e saber o que outro sente, quer ou precisa.
Ela é minha alma gêmea, tamanho companheirismo e amizade”, declara.
“Tenho certeza de que meus netos me veem como um amigo.
Eu brinco de casinha, de boneca e o que vier.
O Gael só quer jogar futebol”, explica.
E é com um pouco de tristeza que o Maurício conta que a figura do avô que ele adotou e que vinha preenchendo seus dias, tem andado meio saudosa nos últimos tempos.
É que os netos se mudaram, recentemente, para Miami.
“Temos descoberto, juntos, uma nova relação.
A saudade é grande demais e não há videoconferência que dê conta do tanto de amor “, desabafa.
Eles mudaram em fevereiro, mas, nesse período, o avô já fez uma visita aos netos.
“Ser avô é um desprendimento louco, um amor louco.
É ser livre juntos.
Que saudade dos meus netos, dos meus amigos”, finaliza Carraro.
Doação sem limites
Arthur, avó Denise e Augusto. Foto: Arquivo Pessoal.
A vovó Denise Bello nem de longe lembra o modelo-padrão de avó, mas já é do grupinho das “corujas” há quatorze anos, quando o primeiro neto, Arthur, chegou: ela recebeu a filha, Mariana, em sua casa, para ajudá-la com todos os cuidados com o bebê.
Doou-se por completo.
E, um ano depois, veio a alegria do segundo neto, Augusto, hoje com 12 anos.
“Gugu e Arthur são meus amores.
É o maior afeto do mundo, uma mistura do sentimento maternal, mas com mais maturidade.
Sem susto, com responsabilidade.
Os netos aprendem muito com os avós, valores, ensinamentos, princípios.
É uma relação de confiança”, explica.
Uma lembrança que ela gosta de contar, e que mostra toda essa proximidade, é uma conversa que tiveram quando Arthur ainda era pequeno.
“Foi assim: a Mariana, minha filha, estava falando para o Arthur como ele era igualzinho a ela.
O cabelo, os olhos, o jeito.
E do pai tinha o dedinho do pé.
Aí ele respondeu: ‘tá bom, mãe, tenho o seu cabelo amarelo, o seu olho claro, o pé do meu pai, mas a dor nas costas eu tenho da minha vó”, conta divertindo-se.
“Gosto dessa história porque mostra o quanto o Arthur gostaria de se parecer comigo e eu fico toda babona”, derrete-se.
E o vínculo só cresce com o passar dos anos.
“Hoje eles me procuram para contar seus dilemas e dramas.
Acho importante que eles tenham em mim um ponto de referência, mostra a parceria”, conta Denise.
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E ver os netos crescidos tem orgulhado a avó
“Gosto de perceber as pessoas que eles têm se tornado. Recentemente, viajamos todos juntos.
Foi inesquecível.
Fiquei emocionada ao ver a maneira com que o Arthur, o mais velho, se comportou.
Sempre ao nosso lado, nos protegendo.
Eu não falo inglês e ele sempre me socorria, muito prestativo e cuidadoso.
Já o Gugu, o mais novo, não me deixou triste nem por um segundo, é muito brincalhão e engraçado, não desgruda.
Quero que seja sempre assim”, disse.
E toda essa dedicação vem misturada a muita gratidão.
“Eu sou a mãe que sou porque tive uma mãe maravilhosa, que se tornou também a melhor avó que meus filhos poderiam ter.
Nós todos juntos mudamos a rotina dela e ela aceitou de coração aberto.
Eles precisam muito dessa mulher, ela é a nossa força.
Ser avó é ser inspiração”, declara Mariana Andreatta, filha de Denise.”
fonte: Viver Bem da Gazeta do Povo