Alterações orgânicas na terceira idade.
Metabolismo e Necessidade Energética
Chama-se metabolismo basal a quantidade mínima de energia que o corpo necessita em repouso e em estado de jejum para manter os processos vitais: respiração, atividade celular, circulação, atividade glandular e manutenção da temperatura corpórea.
O metabolismo basal varia com a idade, sexo, área de superfície corporal, composição do corpo, estado de nutrição, funcionamento de glândulas endócrinas, clima, presença de doenças e estado fisiológico.
Há uma diminuição do metabolismo com o avanço da idade, na desnutrição e na fome, na hipoatividade das glândulas, e em algumas doenças.
Mulheres possuem metabolismo mais baixo que homens, assim como quanto menor a superfície do corpo, menor o gasto de energia.
Pessoas com maiores taxas de gordura corporal também possuem gasto energético menor.
O metabolismo costuma acelerar nos processos de crescimento e gestação, na hiperatividade glandular, no clima frio, para manter a temperatura corporal, e em algumas doenças.
Há muito tempo sabe-se que o metabolismo diminui com o passar de idade.
Dados do Estudo de Baltimore (EUA) sobre longevidade e envelhecimento sugerem um declínio no metabolismo basal de 3 a 4 % por década de vida a partir dos 40 anos.
É notório que, com o envelhecimento o corpo perde parte de sua massa muscular, responsável pelo maior gasto de energia no organismo, mas já foi comprovado que de alguma forma a atividade metabólica do tecido muscular também diminui com a idade.
A ingestão dietética ou a ação dos hormônios da tireoide não tiveram ação comprovada em estudos científicos sobre a diminuição do metabolismo.
Por outro lado, a incidência de hipotireoidismo aumenta com a idade.
Ocorre em 4 a 7 % dos idosos, contra 1% dos casos nos mais jovens.
Foi observado que o declínio do metabolismo basal ocorre em fases diferentes no homem e na mulher e é associado à menopausa, quando se trata do sexo feminino.
Nos homens, a redução no metabolismo basal inicia-se por volta dos 40 anos de idade; já na mulher este processo costuma ocorrer mais tarde: por volta dos 50 anos.
A concentração plasmática de norepinefrina é elevada em pessoas idosas, como resultado de uma maior secreção pelos tecidos nervosos.
Este aumento da secreção de norepinefrina pode ser a causa do aumento da concentração abdominal e visceral de gordura nas pessoas idosas.
Como o tecido adiposo não gasta energia, este é outro fator que pode contribuir para um baixo metabolismo basal.
A ingestão energética diária recomendada para idosos é de 2300 calorias para homens e 1900 para mulheres
Como este dado é muito genérico, estima-se uma necessidade energética de 30 cal por kg de peso.
Alterações orgânicas na terceira idade.
Digestão e Absorção
O processo de envelhecimento é acompanhado por um declínio nas funções orgânicas, especialmente em pessoas acima de 80 anos de idade.
Muitas dessas alterações nas funções normais podem influenciar a necessidade nutricional desses indivíduos.
As alterações no paladar e olfato geralmente manifestam-se por menor sensação de sabor nas papilas gustativas da língua e diminuição das terminações nervosas de paladar e olfato.
Os problemas orais, como falta de dentes ou dentes fracos, também influenciam a ingestão alimentar.
As alterações hormonais e das secreções e suas influências no processo digestivo serão discutidos nas tabelas abaixo:
Hormônio | Função Digestiva | Nível de Secreção |
---|---|---|
Gastrina | Estimula a liberação de enzimas gástricas e ácido clorídrico |
Sem alterações, mas pode aumentar em alguns indivíduos |
Secretina | Estimula a secreção do suco pancreático, rico em bicarbonato e promove a produção de bile pelo fígado |
Sem alterações |
Colecistoquinina | Estimula a secreção do suco pancreático, rico em enzimas e bicarbonato, estimula a ejeção da bile da vesícula biliar para o duodeno |
Aumentada |
Secreções | Função Digestiva | Nível de Secreção |
---|---|---|
Saliva | Umidifica e mistura os alimentos; auxilia a mastigar e engolir os alimentos. |
Geralmente sem alterações, mas pode diminuir em alguns indivíduos |
Amilase salivar | Quebra o amido em dextrina e maltose | Sem alterações, mas pode aumentar em alguns indivíduos |
Ácido clorídrico | Auxilia a digestão de proteínas, a quebra da sacarose para glicose e frutose,libera vitamina B12 dos alimentos ricos em proteínas |
Normalmente diminuído, mas pode aumentar em lguns indivíduos |
Pepsina | Quebra as moléculas de proteínas em peptídeos | Pode diminuir em volume |
Suco pancreático | Umidifica e mistura os alimentos; auxilia a mastigar e engolir os alimentos. |
Pode diminuir em volume |
Amilase pancreática | Quebra o amido em glicogênio e maltose | Pode diminuir em volume |
Tripsina | Quebra os peptídeos em aminoácidos | Sem alterações |
Lipase pancreática | Quebra triglicerídeos em monoglicerídeos, ácidos graxos e glicerol | Pode diminuir em volume |
Bile | Emulsifica as gorduras em partículas menores para a digestão; liga-se a lipídeos e ácidos graxos para formar micelas (partículas absorvidas no intestino) |
Sem alterações |
Dissacaridases | Quebra dissacarídeos em monossacarídeos | Diminuição da lactase; sem alterações na maltase e sacarase |
Alterações orgânicas na terceira idade.
Falta de Apetite
A falta de apetite é uma queixa muito observada no acompanhamento de pessoas idosas, que parece ocorrer com igual frequência em homens e mulheres.
Quando o apetite diminui, reduz-se o consumo de energia, proteínas, vitaminas e minerais, deletando o organismo de nutrientes necessários e aumentando o risco de desenvolvimento de doenças, baixa resistência e infecções.
Há muitas causas para este fenômeno.
Pessoas doentes, particularmente com câncer, desordens gastrointestinais ou depressão normalmente acham o alimento sem atrativos.
Nestes casos, o mais importante é tratar a doença causadora.
Outra causa comum é a angústia de se ter perdido um ente querido ou a solidão.
Medicações que afetam o estômago ou interferem no sistema digestivo também podem diminuir o apetite.
Algumas pessoas ainda são incomodadas pelas alterações orais, como mudanças no paladar e olfato, prejuízos na dentição.
A diminuição do apetite pode refletir ainda a deficiência de vitaminas e minerais, mas esta condição é incomum.
Deve-se procurar auxílio profissional quando há perda de 2 a 5 kg em poucos dias.
Quando a causa é depressão ou solidão, é necessário reconhecer e enfrentar a situação para lidar com os problemas causadores da falta de apetite.
Será necessário procurar um terapeuta para auxiliar neste processo.
Alternativas ajudarão a lidar com o problema:
– Providenciar ambiente agradável para as refeições;
– Servir os alimentos de maneira atrativa;
– Se possível pedir para que outra pessoa prepare as refeições;
– Mudar a textura, as cores e os condimentos periodicamente;
– No caso de diminuição da secreção salivar, utilizar chicletes ou balas sem açúcar para estimular a secreção, ou considerar o uso de saliva artificial se a boca está muito seca.
Alterações orgânicas na terceira idade
Desidratação
O balanço dos fluidos corporais é tão importante na terceira idade quanto em qualquer outra fase de nossa vida, mas merece atenção especial porque a desidratação comumente deixa de ser reconhecida em pessoas idosas.
Um estudo recente indicou que a desidratação é responsável por 6,7% das hospitalizações de idosos nos EUA.
O desbalanço de líquidos corporais normalmente se deve ao consumo inadequado e a perdas excessivas.
Pode ser causado pela falta de capacidade do idoso em reconhecer sua necessidade de consumo de líquidos, ao acesso limitado à água, ou ao temor de beber para evitar idas frequentes ao banheiro, especialmente em doentes crônicos, imobilizados, com falta de controle na bexiga ou com problemas mentais.
O uso de laxativos, diuréticos, diarreias ou vômitos frequentes, febre, má absorção e hemorragias podem ser responsáveis por perdas excessivas.
Na ausência de distúrbios clínicos que exijam alterações na ingestão hídrica, um consumo de 30 ml de líquidos por kg por dia é suficiente para idosos.